Cornucópia
Poema pós sexo, no ônibus de volta pra casa. Não desses que seu coração quase para perto de um orgasmo e prazer. Mas um poema quase diabólico sobre uma sensação de assexualidade, de se sentir sujo e usado.
Venham a mim
Vós que tens sede
Bebam de minha boca
Beijem e mordam meus lábios
Tenho amor, doce,
e um pouco de desprezo
Se atentem ao meu perfume
Escolhi o mais etéreo
Coloquem o olfato e a língua
Os dentes e as unhas sobre ele
Bebam do meu cheiro
ferozmente
Brinquem com meu corpo
Me coloquem onde queiram
Com ou sem minhas roupas
Usem meus órgãos
E meu tônus muscular
Posso tentar fingir que estou vivo
Já me tiraram tudo
O sabor e a cor e o ar
Já me tiraram a solidão e o tesão
Minha dor é saber
que a sede dos homens
não fenece
Minha coragem fica perto do coração
Abram meu peito
Minha força corre nas veias
Bebam do meu sangue
Minha carne não se estraga
A morte me pune com a vida
Nasci anjo e me jogaram
No meio dos predadores
Me desculpem, não sinto
Mas finjo, sou sobrevivente
Não me tentem fazer voar
hoje estou um pouco estragado
Bebam de minha luz
Comam de minha inocência
Sujem minhas roupas candura
Brinquem com minhas penas
Perto da morte, infelizmente
eu ressuscito